A Importância das Mulheres no Mundo do Vinho! Madame Clicquot (1777-1866)

Madame Clicquot, de seu nome completo, Barbe-Nicole Clicquot-Ponsardin, nasceu em Reims a 16 de dezembro de 1777 numa família abastada. Filha do Barão Nicolas Ponsardin, um importante empresário têxtil e político de Reims, e de Jeanne Josephe Marie-Clémentine Letertre Huart, teve uma educação tradicional á época. O seu pai era um homem influente que, apesar de ser monárquico, acabou por mudar de lado e apoiar a revolução francesa para proteger a sua família dos tumultos populares.

Em 1798 Barbe-Nicole Ponsardin, com apenas 21 anos, casou-se com François Clicquot, filho único de Philippe Clicquot-Muiron, o fundador da Casa Clicquot-Muiron, que tinha negócios na banca, comércio têxtil e comércio de vinho. O casamento foi uma espécie de casamento arranjado para consolidar as fortunas dos dois grandes empresários de Reims.

Apesar do vinho representar apenas uma pequena parte do negócio da família Clicquot, François queria expandir o negócio ao contrário do seu pai que, devido às guerras napoleónicas, achava que o investimento era um risco. Até aqui o negócio do vinho residia na sua distribuição. Philippe comprava o vinho aos produtores locais e exportava-o junto com os têxteis, mas apenas como negócio secundário. François queria ser produtor e mudar o foco para vinho espumante que era uma bebida que se tinha tornado popular durante o reinado de Luís XV. François persistiu na ideia e, junto com a sua jovem mulher embrenhou-se no mundo vitivinícola para adquirir todo o conhecimento que não possuía.

Mas, em 1805, François Clicquot faleceu prematuramente depois de ter adoecido com uma febre, provavelmente febre tifoide.

Viúva com apenas 27 anos, e com uma filha de 3 anos, Barbe-Nicole investiu a sua herança e pediu apoio ao seu sogro para que, este também investisse no negócio do vinho, contrariamente ao que este pretendia. Philippe acedeu com a condição de que, Barbe-Nicole fosse aprendiz do famoso enólogo Alexandre Fourneaux que também investiria no negócio.

E foi assim que, numa altura em que as mulheres assumiam um papel secundário na sociedade, a viúva Clicquot, como ficou conhecida, se tornou numa das primeiras mulheres empresárias do mundo moderno.

No entanto, concluído o estágio e passados quatro anos o negócio estava quase falido. As guerras napoleónicas e os bloqueios navais prejudicaram o negócio e foi necessária uma segunda injeção de capital dada pelo seu sogro. E, eis que estando no final das guerras napoleónicas, Barbe-Nicole faz aquela que seria a sua jogada de mestre ao apostar no mercado russo. Nesta altura os russos eram os grandes entusiastas desta bebida e, Barbe-Nicole pensou que, se conseguisse ter sucesso neste mercado então a sua empresa também conseguiria ter sucesso. E touché!

Na sua adega, Barbe-Nicole guardava a colheita de 1811, que se iria tornar célebre. A passagem de um cometa pela região de Champagne foi vista como um bom presságio para a colheita de excecional qualidade. Madame Clicquot terá chamado a esse ano “O ano do cometa” e acrescentou um cometa na rolha. Em 1810 havia criado o primeiro champanhe vintage, isto é, um champagne de uma única colheita.

Na altura o champagne era extremamente doce tinha com cerca de 300 gramas de açúcar por litro o que representa aproximadamente o dobro de um atual vinho de colheita tardia. Barbe-Nicole achou que esta bebida faria as delícias dos russos. Dado que os bloqueios navais eram um problema, Barbe-Nicole contrabandeou o seu melhor champagne para Amesterdão, onde ficou a aguardar a declaração do fim da guerra. Quando isto aconteceu, as suas 10.550 garrafas de champagne seguiram para São Petersburgo onde foram um sucesso triunfante. Pushkin, Chekhov e Gogol terão elogiado este champagne e o czar Alexandre I terá dito que este seria o único champagne que beberia. A sua fama rapidamente se espalhou por entre a corte e os mais abastados e, de um momento para o outro, Barbe-Nicole Clicquot-Ponsardin ou, Madame Clicquot, passa para as bocas do mundo.

A procura pelo champagne Clicquot foi tal que a viúva Clicquot receou não conseguir fornecer todos os pedidos. Nessa altura, a produção de champagne era um processo muito demorado e dispendioso.  

A produção de um champagne distingue-se de um vinho convencional por ter duas fermentações. A segunda fermentação ocorre em garrafa depois de adicionados açúcar e leveduras ativas que vão despoletar essa segunda fermentação. Ao consumir os açúcares as leveduras libertam o gás carbónico responsável por criar as tão adoradas bolhas que tornam esta bebida efervescente tão sedutora. Após esta segunda fermentação as leveduras morrem num processo chamado de autólise ficando dentro da garrafa. O problema é que o champagne fica turvo e não é atrativo em termos visuais. Por esta razão os enólogos têm de retirar estes resíduos que impedem que o champagne fique límpido. 

Á altura, os fabricantes de champagne despejavam o precioso líquido de uma garrafa para outra para se livrarem desses sedimentos, mas, para além de ser demorado este processo danificava as bolhas comprometendo a qualidade do champagne.

Madame Clicquot sabia que tinha de desenvolver outra técnica mais eficiente e que não interferisse na qualidade do seu vinho. Em vez de transferir o vinho para outra garrafa desenvolveu uma técnica que possibilitava a retirada dos sedimentos sem que o vinho fosse retirado da garrafa.  As garrafas eram colocadas de cabeça para baixo num cavalete especial e iam sendo rodadas para facilitar a acumulação dos sedimentos no gargalo da garrafa. Com a ajuda de um funcionário descobriu ainda que, congelando o gargalo os sedimentos acumulados eram expelidos numa forma sólida. Ainda hoje, este método, inventado em 1816 e chamado de rémuage, é utilizado.

Remuage

A rémuage revolucionou o método de produção do champagne, mas, graças á lealdade dos seus funcionários, foram precisas décadas para que os concorrentes de Madame Clicquot descobrissem o método que utilizava e que fez incrementar não só a qualidade do seu vinho, mas permitiu a produção em masse desta bebida que era tão exclusiva e luxuosa. O seu champagne foi exportado para vários países do mundo e em grandes quantidades transformando-a numa das grandes empresárias do seu tempo.

Em 1818 Madame Clicquot criou o primeiro champagne rosé d'assemblage misturando alguns de seus vinhos tintos Bouzy com seu champanhe. Anteriormente já uma casa tinha criado um champagne rosé, mas adicionando uma mistura á base de sabugueiro.

Em 1877 a Maison Clicquot registou o seu distintivo rótulo amarelo que, no entanto, já era utilizado desde 1835.

O seu empreendedorismo, visão inovadora, resiliência e a sua formidável contribuição para o mundo vitivinícola e para a região de Champagne fez dela a “Grande Dama de Champagne”.

Barbe-Nicole Clicquot-Ponsardin nunca deixou a sua França nem nunca voltou a casar. Faleceu a 9 de julho de 1866 com 89 anos deixando um império e sabendo que Veuve Clicquot Ponsardin era o champagne mais vendido do mundo.

Em 1877 a Maison Clicquot registou o seu distintivo rótulo amarelo que, no entanto, já era utilizado desde 1835.

Em 1972 para assinalar o seu 200º aniversário, a Maison Clicquot lançou o seu cuvee vintage La Grande Dame e criou o Veuve Clicquot Business Woman Award, uma homenagem ao espírito empreendedor de Madame Clicquot.

Em 1986 a a Veuve Clicquot é adquirida pela Louis Vuitton.

A Maison Clicquot preserva ainda uma herança inestimável. Tem um arquivo com mais de 100.000 cartas escritas e recebidas por esta mulher excecional e inspiradora.

No final da sua vida, em 1860, numa nota a uma bisneta escreveu; “O mundo está em perpétuo movimento, e temos de inventar as coisas de amanhã. É preciso ir antes dos outros, ser determinado e exigente, e deixar que a sua inteligência dirija a sua vida. Aja com audácia".

Referência
Site Veuve Clicquot

Etiquetas: Madame Clicquot

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