
É difícil afirmar, com precisão, qual a procedência das primeiras vinhas no arquipélago dos Açores. Há registos que indicam que os primeiros bacelos vieram da ilha de Chipre para as ilhas do Pico e São Jorge, há outros que indicam que vieram da Ilha da Madeira.
O que é certo é que a cultura da vinha, nestes terrenos vulcânicos, inóspitos e batidos pelos ventos marítimos do Atlântico, remonta ao século XV e aos primeiros colonos. A vinha plantava-se apenas em terrenos não propícios à cultura dos cereais. Por esse motivo deram vida aos mantos de magma consolidado plantando vinha nas fendas da lava ardida e abrindo buracos onde não havia fendas, favorecendo a deposição de resíduos orgânicos.
Para “arrumar” a pedra solta que sobrava ergueram muros ao redor das vinhas e rapidamente perceberam que esses muros as protegiam dos ventos, das maresias e da rebentação das ondas que arrastavam água salgada para o interior dos terrenos. Num labor humano notável construíram mais muros criando uma espetacular paisagem formada por um rendilhado de micro espaços que, na ilha do Pico, é considerado Património Mundial da Unesco. Para além da proteção contra as intempéries estes muros acumulavam calor durante o dia ajudando a aquecer as vinhas durante a noite.
A viticultura representou grande importância em todo o arquipélago mas, das 9 ilhas açorianas foi a Ilha do Pico que granjeou fama pelos quatro cantos do mundo pela excecional qualidade dos seus vinhos brancos, exportando para Inglaterra e, em menores quantidades, para a Alemanha, Rússia e Brasil. A casta Verdelho era a mais plantada por ser a mais “saborosa e proveitosa”. A Terrantez também era mencionada como sendo uma das castas de melhor qualidade.
Em meados do século XIX esta favorável situação alterou radicalmente. Vindo da América, surge o oídio que dizimou toda esta riqueza vinícola espalhando-se por toda a Europa. Nesta altura, também da América, veio uma vinha (Vitis Labrusca) com a chamada casta Izabela ou “uva de cheiro”, como é designada pelas gentes locais, que interessou os viticultores por ser resistente ao oídio. Iniciou-se então uma nova era e milhares de pipas de Vinho de Cheiro, considerado um vinho medíocre, foram produzidas.
No final do século XIX, quando o oídio já começava a ser combatido, uma nova praga apareceu – a filoxera (Phylloxera Vastatrix). Este inseto não poupou as “vinhas de cheiro” e foi calamitoso para as vinhas de toda a Europa, que ainda não se encontravam nas melhores condições por causa do oídio.
No início do século XX as áreas do antigo e famoso Verdelho Açoriano eram cada vez menores, embora não completamente extintas, sendo as vinhas da casta Izabela as que existiam em maior quantidade mas que produziam um vinho considerado de menor qualidade.
Na década de 80 num esforço para recuperar todo o património vitivinícola, programas de ajuda ao investimento foram feitos, aprovadas as Regiões Demarcadas do “Pico”, “Biscoitos” e “Graciosa” e criada a Comissão Vitivinícola dos Açores. As vinhas foram reconvertidas, para recuperar o tradicional e antigo Verdelho Açoriano e novas castas Europeias foram introduzidas. Ainda hoje o “vinho de cheiro” é produzido mas apenas para o consumo das gentes locais.
Mas, o que torna estes vinhos açorianos tão originais e únicos que os levaram até ás grandes Casas Europeias, a Czares e até a Papas?
A salinidade, a mineralidade e o carácter vulcânico são as marcas distintivas destes vinhos atlânticos.
São três as castas nobres açorianas: o Verdelho Açoriano, o Terrantez do Pico e o Arinto dos Açores. Na Região Demarcada do Pico e dos Biscoitos estas são as castas predominantes. Na Graciosa predominam as castas Arinto dos Açores, Boal, Fernão Pires, Terrantez do Pico e Verdelho.
O Arinto dos Açores tem aromas mais cítricos e é a casta com maior acidez e frescura. O Verdelho Açoriano é o mais salino, e tem um leque aromático de frutas tropicais mais complexo. O Terrantez do Pico tem uma mistura aromática cítrica e floral com notas salinas.
Os vinhos açorianos expressam todo o terroir ímpar de uma terra agreste e pedregosa, onde as vinhas crescem em chão negro de lava quase sem terra vegetal e onde todo o legado de sabedoria e tradição conseguiu sobreviver estoicamente até aos dias de hoje.
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