
Conceito
Vinho produzido de forma artesanal através da milenar técnica de fermentar a uva em talhas de barro. Técnica essa que provinda dos tempos romanos, se tem mantido inalterada ao longo de mais de 2000 anos de história, passando de avós para pais e de pais para filhos através da sabedoria popular. Em Portugal é no Alentejo que esta tradicional técnica de vinificação tem sido preservada ao longo dos tempos. E, Vila de Frades, uma pequena vila no coração do Alentejo com menos de 900 habitantes, é considerada a guardiã dos vinhos de talha, sendo atualmente designada como “A Capital do Vinho de Talha”.
Um vinho artesanal
O fato das talhas possuírem tamanhos, porosidade, e espessuras diferentes entre si implica que os níveis de oxigênio e temperatura a que as uvas e massas vínicas são sujeitas durante a fermentação seja diferente de talha para talha. Desta forma, apesar de muitas vezes feitos com as mesmas uvas, os vinhos de talha têm a particularidade de ser todos diferentes entre si devido ao toque único que cada talha lhe confere. Torna-se, portanto, impossível replicar um lote, o que consequentemente traduz a singularidade deste tipo de vinho e assegura o seu caráter artesanal.
O processo
O essencial da vinificação em talha pouco mudou em mais de dois mil anos. Em traços gerais, as uvas previamente esmagadas, com ou sem engaço, são colocadas dentro das talhas de barro e a fermentação ocorre espontaneamente apenas com as leveduras indígenas presentes nas uvas. Durante a fermentação, as películas de uvas que sobem à superfície e formam uma capa sólida são mexidas com um rodo de madeira e obrigadas a mergulhar no mosto pelo menos duas vezes ao dia, mas geralmente mais, evitando que as massas obstruam a boca da talha e originem o seu rebentamento, e para transmitir ao vinho mais cor, aromas e sabores.
Depois da fermentação as talhas são mantidas fechadas por tampas de madeira ou barro ou ainda com papel pardo embora este não seja tão eficaz. Os produtores mais tradicionais selam as talhas com uma camada grossa de azeite para que o oxigénio não entre em contacto com o vinho.
Terminada a fermentação, que geralmente dura entre 8 e 15 dias, as massas assentam no fundo num processo que dura algumas semanas. Na parede da talha, perto da base, existe um orifício onde se coloca uma torneira. O vinho atravessa o filtro formado pelas massas de uvas e sai puro e límpido para o exterior. É um processo simples e natural, tanto quanto o vinho que dele resulta. Depois da abertura da talha ou se mantém o vinho nessa talha ou se passa o vinho para outra talha onde estagia para ser consumido ou engarrafado.
Com algumas variantes, o processo é o mesmo tanto para os brancos como para os tintos. Há ainda quem misture uvas tintas e brancas, o que origina um vinho de ror rosada a que os alentejanos chamam de “petroleiro”.
Os vinhos da talha são leves, por terem sido menos extraídos, e muito gastronómicos. Combinam especialmente bem com as iguarias tradicionais do Alentejo.
O legado
A ligação do povo alentejano ao vinho da talha manifesta-se em três momentos. O primeiro ocorre quando as pessoas se juntam para revestir as talhas com pez louro num processo, também ancestral, que se chama de pesgagem. Pesgar as talhas significa impermeabilizar as talhas com pez louro, que mais não é do que resina de pinheiro á qual se podem adicionar outros produtos naturais como mel e azeite. Este processo ocorre poucas vezes, por isso, quando acontece é motivo para as gentes celebrarem acabando muitas vezes com a assadura de um porco. O segundo momento ocorre com a vindima, esmagamento da uvas e fermentação em talha que envolve família, amigos e vizinhos. E, por último, temos o grande e esperado momento que acontece no dia 11 de novembro. Nesse dia celebra-se o São Martinho e, no Alentejo, a tradição dita que as massas vínicas se mantenham na talha até esse dia. É no dia 11 de novembro que as talhas são abertas e o vinho dado a provar a todos. Não há adega ou taberna em que o célebre vinho da talha não seja dado a provar e em abundância. A tradição está mais viva do que nunca.
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